quinta-feira, 16 de março de 2017

Pela Magia de Acreditar - 4ª Parte





A manhã apresentava-se com céu limpo, e um sol brilhante que adentrava o quarto de David para lhe dar os bons dias. Era um bonito sábado do mês de setembro. Sem grandes planos para preencher o dia, deixou-se ficar mais algum tempo na cama. Inevitavelmente pensou, tão logo olhou para o livro colocado sobre a pequena mesa de cabeceira, nas coisas que lhe tinham acontecido. Fora tudo tão real. Karamin, Haran, e os ninjas, com a profecia do ninja que devolveria o sabre ao seu avô e terminaria com a guerra silenciosa que havia entre alguns ninjas e entre os ninjas e os humanos. Era tão difícil entender como é que haviam tantos como ele a entenderem e a gostarem de ninjas, da sua arte, da sua filosofia de vida, e outros tantos que por outro lado viam o ninja como uma figura estranha, obscura e demasiado secreta para ser um ser com boa índole.
Foi ao olhar para o relógio e depois para a janela, que soubera bem onde iria. Tinha de saber mais sobre o sabre. Tinha de confirmar se sonhara ou se tudo aquilo tinha realmente acontecido, e ninguém melhor que o seu avô para explicar-lhe e contar-lhe toda aquela história.
Levantou-se, vestiu-se e desceu as escadas. A mãe esperava-o na cozinha com pão quente que comprara e café com leite e, um bolo prestes a sair do forno. Comeu e saiu de casa com uma fatia de bolo bem quente, enrolada num guardanapo. Ia ao encontro do seu avô. Sabia muito bem onde é que ele costumava estar a ler o seu jornal, durante uma parte da manhã. E como previra la estava ele. Sentado num banco de jardim, no parque que ficava na rua por trás da sua casa. Estava com o olhar perdido nas preenchidas páginas, e de tão absorto que estava numa notícia qualquer, nem se dera conta da ponta do nariz quase tocar o papel. David aproximou-se do avô e sentou-se silenciosamente ao seu lado. Nas mãos, para além do pedaço de bolo quente que começara a desembrulhar para partilhar com o avô que tanto apreciava os bolos que a sua mãe fazia, trazia também o livro que encontrara no compartimento secreto da mesa de cabeceira.
- Avô? Foi tudo o que disse, pois o sábio homem, mesmo não tirando os olhos do jornal sorriu levemente e disse-lhe:
- Sabia que virias, David. Sabia que me procurarias. Sabia que um dia virias procurar as respostas para todas as tuas perguntas. Vamos lá, meu filho. Há muito para dizer… há tanto que tenho para te contar.
David, que partilhara o bolo com o seu avô, olhava-o atento, pronto para ouvir o que ele lhe diria. Era importante… Muito importante.
- Meu filho, os anos passaram, e tu cresceste. Houveram coisas que te ensinei, outras que os teus pais te ensinaram, e outras que aprendeste por ti. Porém, houveram coisas que ficaram por dizer, ficaram por ensinar, ficaram por aprender. Talvez porque acredite que na vida há um momento certo para cada coisa. E como pudeste constatar, esse momento certo chegou. O livro que trazes nas mãos, é a prova de que há um momento certo para cada coisa. Esse livro é a prova de que eu tive o meu momento. Fui um ninja. E neste momento o ninja és tu. Tens uma missão, se a quiseres, para cumprir, uma história para viver e um sabre para recuperar, a fim de unir dois mundos. Tudo o que viste, sentiste e soubeste, não é nem nunca será um sonho. Tudo o que julgas ter sonhado, meu filho, aconteceu. Agora cabe-te a ti aceitar seres o escolhido, mas sobre tudo, escolher aquilo que te faz mais feliz. Não. Contrariamente ao que possas pensar, se não escolheres ser um ninja, eu vou entender. Não é fácil nem é de pouca responsabilidade recuperar e possuir, então, o sabre. Ser um ninja de verdade. Assim, se escolheres deixar a arte ninja para trás, não te posso condenar. Eu sou um velho ninja. Já combati, ainda que secretamente em tantas batalhas, tantas guerras, vi tantas coisas, li tantas coisas, ouvi tanto e de tanta gente, que por vezes até eu próprio julguei não ser capaz de suportar. Tantas! Tantas foram as vezes que julguei partir para uma guerra e ou para uma missão, e não saber se voltaria para junto da tua avó e da tua mãe. Temia deixá-las, e sobre tudo ser eu o causador da sua dor. Porém, ser ninja estava-me no sangue, e mesmo ainda hoje, depois do meu sabre me ter sido tirado e por isso eu ter delegado o meu lugar ao Haran, eu sinto ser um ninja, de coração.
- E serás sempre um ninja, avô. E eu serei um ninja, também. Agora era a vez do avô de David, ouvi-lo. O rapaz falou-lhe de tudo o que Haran lhe contara na ilha dos ninjas, e o avô, que fechara o jornal em qualquer momento durante o tempo que falava ao seu neto, ouvia.
- Avô, agora que sei quem e o que sou, e agora que sabes do que me aconteceu, ensina-me a arte das runas, as técnicas, e eu trarei o teu sabre. Tem de haver um fim para esta guerra entre os ninjas e entre ninjas e humanos. Tem de terminar esta separação. Eu não sei se sei passar a serpente incandescente, e se saberei como decifrar os desafios que me serão impostos até chegar ao sabre. Mas, avô, eu escolhi ser eu. Como sempre, eu vou sempre escolher ser eu. Sou um ninja, como tu.
O velho homem erguera-se do banco e fez sinal para que o jovem o acompanhasse. Antes de se dirigirem para casa, O avô segurara num abraço o seu jovem neto e disse-lhe: Só o coração daquele que acredita, sabe a arte de escolher só por si o que está certo. Segue o teu coração. Ele sabe a arte de bater pelo que está certo, empunhes tu um sabre, ou tragas em vez disso,  sonhos, vontade e amor nas palmas das mãos.
Quando o abraço do avô enfraquecera, juntos regressaram a casa. E às suas vidas normais.
David dividia o tempo entre a escola e os ensinamentos do seu velho avô. Havia de saber desenhar e interpretar as runas, caracteres pertencentes à mitologia nórdica, mas que os ninjas adicionaram ao seu próprio alfabeto a fim de serem feitos registos e serem escritas as profecias ninjas, e devia de ter todos os ensinamentos sobre a arte ninja. Ninguém melhor que o velho Koroan, líder dos ninjas, para ensinar ao seu jovem neto todos os truques, segredos, estratégias, e tudo o que sabia relativamente acerca  das reações e ações tomadas em missão.
Na noite escolhida para o regresso de David por algum tempo a ilha de Karamin, o avô subira ao quarto do rapaz a fim de lhe dar algumas indicações e ajudá-lo a passar pela porta secreta, que o levaria até a ilha dos ninjas, onde haran o esperava junto com todos os outros companheiros.
- David, meu jovem Ninja Kiroan, leva sempre contigo o velho livro. Sabes que ao olhares para a página com o número nove desenhado na diagonal e com a respetiva runa da data do teu nascimento, para voltares para casa, é só tocares no papel e pensares no que queres com muita força – com toda a força que há dentro do teu coração. Esse livro é a chave para transitares entre os dois mundos. É também a chave que falta aos ninjas que se viraram contra nós, e aos humanos que nos desacreditam, para andarem entre os dois mundos. Nunca o percas, filho. E vai. Não te esqueças: A resposta para as dúvidas e escolhas, está  dentro de ti.
Dizendo aquilo, despediu-se mais uma vez de David que dividia o seu olhar entre a presença do avô e da  doce Lyra que parecia compreender todas as coisas, olhando o rapaz com aqueles olhos de quem sabia que se iriam ver em breve.
Quando abriu o livro e olhou a página com o nove na diagonal e a runa da data do seu nascimento, David sentiu-se entrar novamente no calidoscópio que o levaria a Karamin. Voltou a fechar os olhos, e sentia, para além das voltas da espiral em que se encontrava, o beijo que a mãe lhe dera ao desejar-lhe boa sorte na missão que aceitara. E ainda eram as palavras que ele ouvia na sua mente ditas pela mãe, quando se sentiu tocar suavemente a relva alta e cuidada, junto ao cipreste que vira e junto do qual ficara, quando, na primeira vez ali fora parar.
- Não tenhas medo. A força que há em ti, é sempre maior que a que podes entender. Volta tão logo possas. Esperamos-te, com o mesmo amor de sempre. E esperariam. Os seus pais, os seus avós esperá-lo-iam. E ele? Ele voltaria. E toda aquela separação tão ridícula de mundos terminaria. Mas por agora, cada coisa a seu tempo. Havia um longo caminho para percorrer, e de nada adiantava correr. Não seria por isso que depois se tornaria num agora.

(…)

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