Olhando a Rua - Para o Diário Gráfico, Desenho de Agosto de 1987
© by Patrícia Magalhães
Senta-te aqui ao meu lado e bebe da vida o calor do momento.
Sorri um pouco e relaxa o morador rebelde do teu peito,
que a vida é tão curta para que nos sintamos sós.
No Cálice do tempo resta-nos as boas memórias que a vida nos dá,
e as sensações que nos percorrem o corpo, gole a gole, sem olhar o relógio.
Lembro-me bem de todas as noites de verão que cumprimos sem pressa do depois,
e daquela brisa de mar que nos fazia pensar que iríamos viver esse verão para sempre,
já que para sempre é o tempo do desejo…
As ruas de antes são as mesmas de hoje, mesmo depois de tantos anos,
mas, mudaram os rostos de quem amamos,
e inevitavelmente, nós também…
O sol vai-se pondo, fazendo-nos lembrar que a vida passa,
e tu, já fumas um cigarro com a tranquilidade de quem já viu quase o mundo todo,
e eu, já encaro o mundo sem estranheza ou pudor.
Sei, como sabes, que isto é o fruto da experiência,
e sabemos que apesar de tudo, dentro do peito ainda mora a mesma ingenuidade…
Lemos os pensamentos na vastidão do horizonte,
escritos naquela linha imaginária que existe onde termina o céu e começa o mar.
Os olhos, curiosos, prendem-se a um traço de sorriso que se solta de uma lembrança de verão – o mesmo em que esta rua e aquela praia se enchiam de nós,
lembras-te?
O vento suave segreda-nos ao ouvido as canções que ouvíamos, apaixonantemente,
e o ar quente que nos envolve e afaga a roupa, lembra-nos que crescemos tal como a vida quis,
mas por dentro vivem os mesmos sonhos…
Dizes-me que querias que o verão do nosso tempo voltasse,
mas, o tempo não é nosso, e o verão é apenas o morador eterno desta rua
que olhamos na esperança de guardar segundo a segundo do que vamos sendo,
como um álbum de fotografias que usamos para recordar…
Pedes-me que sorria, que vais sorrir também.
E que quando olharmos o horizonte, possamos sempre ver a nossa rua
e todos os nossos sonhos que nos fizeram acontecer…
*
Muito bom.
ResponderEliminarBeijinho