quinta-feira, 20 de junho de 2013

A Carta

 

Não sou nada destas coisas, tu sabes, mas volta.

Sinto demasiado vazio na cama, e esta  casa ficou cheia de ausências

estranhas que me assustam desde que te foste embora.

Tenho café feito e a paixão arrumada no mesmo lugar

onde sempre te a guardei, e o meu corpo ainda te espera.

O meu abraço insiste em só se enlaçar no teu abraço, e

por entre tantas coisas que já escrevi e o tempo não apaga,

há ainda umas tantas  cartas como esta,

endereçadas a ti, que as não leste, e há,

também, umas tantas palavras que te inventei

em segredo, para que um dia, quando e se voltares,

só tu saibas de tudo o que não te disse,

mas que senti por ti, no peito.

 

Sou louca, eu sei, mas se me amares outra vez,

volta.

Já tentei sem ti,  desenhar uma vida inteira, mas

o rascunho não se parece com nada, e

cada traço feito a tinta, tem a cor

do sangue que derramámos quando se quebrou

como vidro o nosso mundo, e os

estilhaços cravaram-se-me na pele e na alma, à semelhança

das tuas palavras não ditas, no momento em que

os meus lábios deixaram de poder tocar os teus.

 

Assim no fim desta carta, deixo-te um beijo não dado,

e umas tantas palavras que não são de amor, mas pedem-te que voltes.

É que o café fica frio e o meu abraço ainda te espera, quente,

com o cheiro das rosas que me deste, e uma saudade

infinda, que como sempre, eu não te sei contar.

 

*

 

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